Take one – Maria Teresa Maia Gonzalez

teresaA minha admiração pela escrita da Teresa é muito anterior a tê-la conhecido. Lia com gosto (e via ler à minha volta) a colecção Profissão Adolescente, que acho excelente, e pensava como seria a Teresa em pessoa. Tive a sorte de conseguir convidá-la para vir ao Bicho-de-conta (um programa que eu tinha na Antena 1 à segunda-feira, sobre livros para crianças e jovens) e… conhecemo-nos. Ter ficado sua amiga a partir daquele momento foi uma dádiva para mim.
Podem imaginar o pânico que senti quando a Teresa me perguntou se queria escrever com ela. A autora das Histórias de Brincos de Penas queria escrever comigo?! Primeiro que tudo, a Teresa significa para mim uma referência na literatura infanto-juvenil, admiro imenso a sua escrita. Era uma honra poder ser sua parceira. Depois, eu tinha a certeza de não conseguir escrever ao lado de outra pessoa – a escrita é para mim um acto totalmente solitário, e, quando alguém fala ou me interrompe, desfaz-se o universo em que estava, tendo depois de voltar a montá-lo. Como poderia eu dizer isto à Teresa?!
Enchi-me de coragem e, minutos depois de ter chegado a sua casa, disse-lhe que não era capaz. Ainda hoje me lembro das gargalhadas que a Teresa soltou! Qual escrever lado a lado!, disse. Iríamos planear os livros, cada uma escrevia a sua parte e corrigiríamos tudo depois, juntas. E não é que funciona na perfeição?...
Na altura escrevemos As Aventura de Colombo, um pombo-correio desempregado e velho, que ganha a vida, e a atenção dos outros, contado histórias, num elogio às gerações mais velhas; agora estamos, com a Rita Vilela, juntas na colecção Fábulas a 3 mãos, metáforas para jovens que os levarão a conhecer-se melhor e a consolidar a personalidade através do sorriso e da partilha.
E assim aprendi a escrever a várias mãos, mas não foi isso apenas que aprendi com a Teresa. Aprendi que a escrita pode e deve lançar desafios e caminhos, pode e deve tratar temas que são tabus (veja-se o caso de A Lua de Joana, Poeta às Vezes e o mais recente Cartas da Beatriz), pode e deve comover e fortalecer a alma. Dediquei-lhe o último livro, Uma Questão de Azul-Escuro, mas será sempre difícil agradecer-lhe o quanto fez e faz por mim e comigo – a Teresa é de uma generosidade sem limites…
Também nunca esquecerei a conversa acerca do romance que tenho agora em mãos sobre o alcoolismo. Foi dessa conversa que retirei a coragem e a determinação para pôr o dedo na ferida e remexer memórias, frustrações e ilusões, e, quem sabe, conseguir ajudar todos os familiares e alcoólicos que sofrem sozinhos.
Obrigada, Teresa. A tua força e a tua amizade fizeram de mim uma pessoa melhor!

Take two – Rita Vilela

ritaConheci a Rita por telefone, numa conversa de horas que nos deixou com a sensação de que nos conhecíamos há já bastante tempo. Passados alguns meses, encontrei-a numa formação. Aí, para além de gostar do seu humor, positivismo e profissionalismo, surpreendi-me com a forma como escrevia, muito particularmente do uso que fazia da metáfora, paixão que partilhamos. Resolvi indagar: haveria alguma coisa a ser escrita…? Havia, mas a Rita esperava paciente por uma resposta havia quase dois anos. Pensei… Não pode ser!
Na altura estávamos a trabalhar o treino mental e a força da metáfora na promoção de mudanças de comportamento. Apetecia-me escrever metáforas, à Rita também. E decidimos – vamos escrever um livro de metáforas para adultos (pensámos nós), livros com perguntas e caminhos entre histórias, num desafio constante ao leitor. Assim nasceram Histórias para Contar Consigo e Brincar com Coisas Sérias. Os contos da Rita estão recheados de trocadilhos de palavras e sentidos, num aproveitamento genial das coisas banais do dia-a-dia, fazendo delas histórias divertidas e fortes.
Daí a termos começado a contá-las em serões foi um passinho pequeno. Contamos com cumplicidade e muito prazer… Costumamos dizer uma à outra: é bom contar contigo! E contamos, de facto, em todos os sentidos.
Mas o passo maior foi dado pelas escolas – acolheram este livro nas aulas de Formação Cívica e Português, sendo delicioso estar com os jovens que leram estes contos. E recebemos amiúde mails e mensagens sobre o efeito dos livros no leitor, o que nos deixa mesmo felizes.
Tinha-se criado assim uma relação de amizade muito forte, onde a escrita em parceria era apenas um detalhe. Para quem não conhece a Rita, pode começar a procurá-la. A saga Oníris é um prodígio de criatividade, prendendo o leitor sem fôlego desde o primeiro instante… E a recente colecção, Perguntas à procura de Resposta, promete dar que falar no seio dos educadores e professores dos 1º anos. Muito interessante!
Daqui a uns dias, sairá a colecção Fábulas a Três Mãos. Partindo de uma ideia da Mª Teresa M Gonzalez, construirmos estes livros juntas e calculo que serão uma mais-valia para os pais e professores.

Take three – Maria João Lopo de Carvalho

lopoQuando me telefonaram a dizer que se ia criar a dupla mais improvável possível, fiquei alarmada… Conhecia o nome da Mª João, mas desconhecia completamente a pessoa. Desconhecia também a sua escrita, uma falha grave. Assim que li A Melhor Mãe do Mundo, percebi quem era. Gostei do humor, da leveza, da escrita atrevida. As dúvidas diminuíam à mesma velocidade do entusiasmo que crescia. A proposta da Mª João era uma colecção sobre uma família com muitos filhos, coisa que tanto eu como ela não tínhamos – e assim nasceram os 7 irmãos.
Claro que, o meu pânico de escrever a par, mantinha-se… Agora não estávamos a falar de contos numa obra a quatro mãos, estávamos a falar de romances juvenis escritos por duas pessoas.
O almoço em que nos conhecemos foi memorável. Olhámos uma para a outra e devemos ter pensado: isto não pode funcionar! Eu, a baldas, de calças de ganga e mochila, ela, a senhora, interessante e bem arranjada; eu, a tímida, ela, um vulcão. Lembro-me de ter dormido mal na véspera da primeira reunião de trabalho; lembro-me das dores de estômago quando lhe enviei o primeiro capítulo; lembro-me da estupefacção ao ouvi-la dizer: “É mesmo isto! Vou escrever o meu, já te mando…”.
Aplicámos a técnica já aprendida: planear, dividir e escrever cada uma a sua parte. Eu sou mais de planear, a Mª João mais de arriscar (e bem); eu sou mais introspectiva, a Mª João muito mais imaginativa; eu trato do equilíbrio geral, a Mª João transforma o livro num emaranhado de peripécias irresistíveis; concluindo – fizemos de facto uma dupla improvável que funciona mesmo. Até hoje, não houve um único prazo estabelecido que tenha sido desrespeitado – pelo contrário, antecipamos sempre tudo, e isso diverte-nos.
Escrever com a Mª João é simples, pois ela é uma pessoa de uma humildade e sinceridade invulgares, de uma constante procura pela qualidade e importância do que escreve, já para não falar na criatividade do que produz. Quando não gostamos de alguma coisa dizemos, e tudo se resolve num ápice. Quando nos comovemos, rimo-nos das lágrimas traiçoeiras. E quando recebemos, como tem sido constante desde o arranque da colecção, mensagens de leitores que descobriram a leitura com os 7 irmãos, celebramos juntas.
Ganhei também uma amiga – ainda bem que nos conhecemos! Penso que crescemos juntas neste processo e que aprendemos muito uma com a outra. E não se iludam – se os 7 irmãos têm a força que têm, a maior responsabilidade está do lado da Mª João, sempre incansável, atenta e activa… Um vulcão, lá está.
Estou desejosa de ler o romance que vai publicar em Outubro, Marquesa de Alorna – trabalhou sem descanso, com um cuidado extremo e uma ligação à história que queria contar. Sei, pelo que conheço da sua forma de estar na vida, que encontrarei uma história muito bem contada e cheia de emoção.